Mostrar mensagens com a etiqueta Cão Celeste # 2. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cão Celeste # 2. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Ilustração de Daniela Gomes...



... para "Uma escada que sobe pelos degraus de ti", de Jorge Roque,
in Cão Celeste n.º 2, Lisboa, Outubro de 2012

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

MANDELA / DA ESPERANÇA




John Mateer, 'Invictus e a revolução negociada ou a ideia de poema lírico segundo Clint Eastwood'
in Cão Celeste n.º2, Lisboa, Outubro 2012

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

EMANUEL JORGE BOTELHO


ANTERO DE QUENTAL, O ANJO CANSADO


     os dias iam indo sem sair da noite.
     todas as manhãs um cão entrava nos seus passos para lhe fazer companhia.
     colocou tudo dentro de uma rasura de soneto e fechou a porta.
     fechar a alma era coisa já antiga. como uma rosa que esqueceu o seu nome e já não sabe as palavras da cor.
     a vida poucas vezes lhe deu tempo de guardar no bolso o que era do silêncio, esse riso de hiena armadilhado que põe mel no rumor do medo.

     chegou ao Campo de São Francisco à hora que acordara.
     a morte já lá estava com as asas recolhidas.
     sentou-se, deu ao cão um longo afago, aconchegou-o junto às pernas, e deixou pousar nos lábios o sal de duas lágrimas.
     depois, devagarinho, tirou do bolso a mão direita e deu dois tiros na morte.

     no chão, desde aquele dia, ficou o recorte de uma sombra.
     quem a vê, dá-lhe o nome de sudário.
     e reza.


Ilha de S. Miguel, Açores


[in Cão Celeste n.º2, Lisboa, Outubro 2012]

quinta-feira, 6 de junho de 2013

JOHN MATEER

"INVICTUS e a revolução negociada
ou a ideia de poema lírico segundo Clint Eastwood"

terça-feira, 2 de abril de 2013

António Barahona



XI

A humanidade não me importa muito, nem pouco, nem nada: o meu próximo, sim, importa-me tudo, na tentativa de nele amar o Todo. A humanidade é uma abstracção de políticos e filósofos ateus, nazis, comunistas, tecnocratas, etc., que pretendem transformar o mundo num campo de concentração global, povoado, na sua maioria, por uma espécie de canalha, dependente de máquinas (cada vez mais sofisticadas) e desligada do transcendente por incapacidade mental.
O meu próximo é concreto, como este texto que exprime, letra a letra, o espírito do que digo.
O Profeta Jesus (que a paz esteja com ele), o Sêlo da Santidade, quando multiplicou os peixes e os pães, mandou a multidão repartir-se em grupos; e, aos grupos, mandou que dividissem, entre si, a parte que lhes coubera para que, dentro de cada grupo, cada um partilhasse com o próximo.


- in As Grandes Ondas,
Lisboa: Averno, 2013



[Dinis Conefrey]

domingo, 24 de março de 2013

CASIDA VII - DE LA ROSA


La rosa,
no buscaba la aurora:
casi eterna en su ramo,
buscaba otra cosa.


La rosa,
no buscaba ni ciencia ni sombra:
confín de carne y sueño,
buscaba otra cosa.


La rosa,
no buscaba la rosa:
inmóvil por el cielo
buscaba otra cosa.


Federico García Lorca
(na voz, claro, de Chavela Vargas)




[Ilustração de Luís Henriques
in Cão Celeste n.º2, Lisboa: Outubro de 2012]

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012






ESTE LIVRO ESCURO
- sobre um álbum de Moriyama Daido


Este livro escuro do tamanho de uma caixa de cinzas
é um memorial após outro, página após página
de instantâneos, como se pudéssemos ser cinemáticos,
como se a visão nunca fosse uma rasura, esse negro metafísico.

Se fôssemos ídolos na Hollywood que imaginamos, carne tonificada,
prata escorregadia ou, melhor, tremeluzindo com os aplausos dourados
dos dias a passarem, página após página,
nunca teríamos duvidado do fotográfico,

nunca teríamos desejado o abandono de um poema.


John Mateer, Este Livro Escuro
Lisboa:  Averno, 2012

domingo, 25 de novembro de 2012


António Barahona - David Teles Pereira - Diogo Vaz Pinto - Emanuel Jorge Botelho - Inês Dias - John Mateer - Jorge Roque - Manuel de Freitas - Paulo da Costa Domingos - Silvina Rodrigues Lopes


*


André Lemos - Cláudia Dias - Daniela Gomes - Diniz Conefrey - Fernando Augusto - Isabel Baraona - Luís Henriques - Luis Manuel Gaspar - Manuel Diogo - Maria João Worm - Ricardo Castro




domingo, 18 de novembro de 2012

CÍRCULO

Temos de confiar nas pessoas, afirmava o meu pai, perante as objecções da minha mãe que eram muitas e fundamentadas, e eu criança pouco entendia, embora me sentisse inclinado a defender o meu pai contra as armas e razões da minha mãe, talvez porque na sua eloquência a minha mãe ganhasse clara vantagem e eu nutrisse simpatia pelos derrotados, ou simplesmente porque o gene se tivesse cumprido e eu na minha crença insensata repetisse o meu pai.
Quanto mais sofro por viver de coração aberto, é o que desta memória hoje se ilumina, mais me reconheço nas palavras do meu pai. Quanto mais envelheço, mais me aproximo do lugar que deixou vazio.
JORGE ROQUE

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

DESENCANTAMENTO

No meu beco, há muitos pombos. Coloquei um recipiente com água, ao lado da porta, para eles beberem e se refrescarem. E atiro-lhes milho e pedacinhos de pão.
Isto, porque me lembro de que no meio de tantos pombos, pode muito bem estar aquele que Jesus esculpiu em barro e a que deu vida, com o seu sôpro.
 

*
 
 
Mas..., Já não há espaço para voar: disseram-me que é proibido alimentar os pombos.
E também é proibido tocar música na rua e aceitar moedas dos passeantes: os meus dois filhos mais pequenos (9 e 12 anos, alunos respectivamente dos Conservatórios de Música e Dansa) foram presos por dois polícias, como se fossem vis bandidos.
Já não há arte na vida, nem espaço para brincar e voar: NÃO É PROIBIDO MALTRATAR CRIANÇAS E DEVE-SE MATAR À FOME OS POMBOS DA CIDADE.



29.VIII.012
 
 
António Barahona
in Cão Celeste n.º 2, Lisboa, Outubro de 2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012