Ilse Bing, "Self-portrait with Staccato", New York
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
DIÁRIO DE RUM
Enquanto espero a subida das águas
Vou construindo de cabeça
O poema deste dia
Prédios para deitar abaixo
Escalpes de negócios clandestinos
Cães que hesitam a travessia
Vou construindo de cabeça
O poema deste dia
Prédios para deitar abaixo
Escalpes de negócios clandestinos
Cães que hesitam a travessia
Os bárbaros chegaram ao governo
Falam línguas.
Falam línguas.
João Almeida
in Telhados de Vidro n.º 17,
Lisboa: Averno, Novembro de 2012
in Telhados de Vidro n.º 17,
Lisboa: Averno, Novembro de 2012
domingo, 25 de novembro de 2012
António Barahona - David Teles Pereira - Diogo Vaz Pinto - Emanuel Jorge Botelho - Inês Dias - John Mateer - Jorge Roque - Manuel de Freitas - Paulo da Costa Domingos - Silvina Rodrigues Lopes
*
André Lemos - Cláudia Dias - Daniela Gomes - Diniz Conefrey - Fernando Augusto - Isabel Baraona - Luís Henriques - Luis Manuel Gaspar - Manuel Diogo - Maria João Worm - Ricardo Castro
domingo, 18 de novembro de 2012
CÍRCULO
Temos de confiar nas pessoas, afirmava o meu pai, perante as objecções da minha mãe que eram muitas e fundamentadas, e eu criança pouco entendia, embora me sentisse inclinado a defender o meu pai contra as armas e razões da minha mãe, talvez porque na sua eloquência a minha mãe ganhasse clara vantagem e eu nutrisse simpatia pelos derrotados, ou simplesmente porque o gene se tivesse cumprido e eu na minha crença insensata repetisse o meu pai.
Quanto mais sofro por viver de coração aberto, é o que desta memória hoje se ilumina, mais me reconheço nas palavras do meu pai. Quanto mais envelheço, mais me aproximo do lugar que deixou vazio.
JORGE ROQUE
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
terça-feira, 6 de novembro de 2012
DESENCANTAMENTO
No meu beco, há muitos pombos. Coloquei um recipiente com água, ao lado da porta, para eles beberem e se refrescarem. E atiro-lhes milho e pedacinhos de pão.
Isto, porque me lembro de que no meio de tantos pombos, pode muito bem estar aquele que Jesus esculpiu em barro e a que deu vida, com o seu sôpro.
*
Mas..., Já não há espaço para voar: disseram-me que é proibido alimentar os pombos.
E também é proibido tocar música na rua e aceitar moedas dos passeantes: os meus dois filhos mais pequenos (9 e 12 anos, alunos respectivamente dos Conservatórios de Música e Dansa) foram presos por dois polícias, como se fossem vis bandidos.
Já não há arte na vida, nem espaço para brincar e voar: NÃO É PROIBIDO MALTRATAR CRIANÇAS E DEVE-SE MATAR À FOME OS POMBOS DA CIDADE.
29.VIII.012
António Barahona
in Cão Celeste n.º 2, Lisboa, Outubro de 2012
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
CÃO
LIRICA
ÇÃO
Parte da lírica
afago-a com as unhas
camadas submissas
focinho do poema.
Os óculos perseguem as pálidas palavras.
Mesmo as mãos
farejam o discurso
enquanto firo um toiro
num alfabeto loiro
num velho mecanismo.
(Um lápis diz para mim:
enxota a solidão)
Parte da lírica
agora é como um cão.
LIRICA
ÇÃO
Parte da lírica
afago-a com as unhas
camadas submissas
focinho do poema.
Os óculos perseguem as pálidas palavras.
Mesmo as mãos
farejam o discurso
enquanto firo um toiro
num alfabeto loiro
num velho mecanismo.
(Um lápis diz para mim:
enxota a solidão)
Parte da lírica
agora é como um cão.
- Armando Silva Carvalho, Lírica Consumível, 1965
[Obrigada, Joana]
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