sexta-feira, 27 de abril de 2012

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Há dois erros profundos: o da novidade a todo o custo e o do racionalismo. Novidade a todo o custo: … perturbador… é um novo Balzac, um novo Victor Hugo… prodigioso… Maupassant ultrapassado… É falso! Cheira a mentira. Porquê? Não é possível ao homem fazer muito de novo. Pelo contrário, muito pouco. A natureza não nos dotou para isso… apenas para fazer pequenas mudanças, nada de especial. No cerne de uma vida, já é imenso. Brassens escreve uma nova canção, percebemos logo que é uma coisa velha. Na Ásia, tudo o que era prático era rejeitado por ser ordinário. Ao passo que nós queremos que tudo seja prático e artificial. A arte é-nos hostil.  
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Para fazer comprar é preciso tornar as pessoas optimistas... comprem um carro novo, novas instalações, contraiam empréstimos. O optimismo da compra. O tipo deprimido ou cínico ou céptico não pode comprar. Estar-se nas tintas para as dívidas, é isso o optimismo...
Então, de "formidável" a "espantoso" a "assombroso", vamos chegando a uma indigestão sem nome. Os outros oitocentos mil lorpas vão tentar ir sempre mais longe. De superlativo em superlativo, teremos um bando de jovens satisfeitos, que fará andar o comércio. Não é muito cómodo dizer isto, mas permite-nos fazer um balanço muito severo e lúcido da época em que vivemos.
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Louis-Ferdinand Céline, “Interview avec Georges Cazal”, 1958
[Trad. ID]

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