terça-feira, 4 de dezembro de 2012

OS CÃES ROMÂNTICOS

Eu tinha vinte anos então
e estava louco.
Tinha perdido um país
mas ganhara um sonho.
E se tinha esse sonho
o resto não importava.
Nem trabalhar nem rezar
nem estudar de madrugada
com os cães românticos ao pé.
E o sonho vivia no vazio do meu espírito.
Uma casa de madeira,
a meia luz,
num dos pulmões do trópico.
E às vezes virava-me dentro de mim
e visitava o sonho, estátua eternizada
em pensamentos líquidos,
uma bicha branca retorcendo-se
no amor.
Um amor desbocado.
Um sonho dentro de outro sonho.
E o pesadelo dizia-me: crescerás.
Deixarás para trás as imagens da dor e do labirinto
e esquecerás.
Mas nesse tempo crescer seria um crime.
Estou aqui, disse, com os cães românticos
e aqui me vou ficar.


Roberto Bolaño
 

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