segunda-feira, 8 de julho de 2013

Rui Nunes


O massacre concentrou-se em pequenas coisas. E sobrevive, nas cansadas viagens suburbanas. Sob os olhos colados de sono, a mão esquecida pesa ou afasta, às vezes cai, abandonada. Um cão enrola-se debaixo de um banco: as palavras têm aqui a aspereza de um vidro riscado. Estação a estação fica mais nítido o vómito nas janelas. E cada minuto recua até encontrar a sua explicação. 
Quem não conhece estas manhãs, duvida:
somos todos o passado clandestino dos felizes, quando o rio era um brilho entre salgueiros, um desvio incerto da infância. 


in Uma Viagem no Outono,
Lisboa: Relógio D'Água, Junho 2013

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