sexta-feira, 27 de novembro de 2015

António Barahona


MEMÓRIA DE AMOR


I

A memória descreve 
o nosso primeiro encontro
no palco dum teatro:
eu, com um cão debaixo do braço;
e tu, à espera que eu me risse
para me veres os dentes.


[...]


IV
(Directas)

Ainda não havia televisão a côres.
Todas as noites, víamos a série d'O Fugitivo.
Às vezes, bebíamos café e passávamos o resto
da noite a fumar e a conversar.
Não tínhamos pressa.
A paixão defendia-nos do tempo.

Saíamos, eternos, ao clarear do dia,
para comprar peixe na lota do Cais-do-Sodré
e tomar o pequeno almoço na cantina.

Não tínhamos nenhuma pressa.
A paixão defendia-nos do tempo.
Voltávamos, eternos, para casa.

14.VII.013


- in Pássaro-Lyra (Primeiro Tomo da Suma Poética),
com capa de Inês Dias e arranjo gráfico de Inês Mateus, 
Lisboa: Averno, 2015

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