quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

PRÉMIO NACIONAL DE POESIA DIÓGENES - 2014




     O Prémio Nacional de Poesia Diógenes, 
atribuído pela revista Cão Celeste 
e com o valor pecuniário de €1500, 
distinguiu, de entre os livros publicados em 2014, 
Talvez Seja Essa Certeza, de António Amaral Tavares 
(Coimbra, Medula).

      A decisão do júri - constituído por 
Ana Isabel Soares, Emanuel Jorge Botelho 
e Rui Caeiro - foi tomada por unanimidade.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

António Barahona


MEMÓRIA DE AMOR


I

A memória descreve 
o nosso primeiro encontro
no palco dum teatro:
eu, com um cão debaixo do braço;
e tu, à espera que eu me risse
para me veres os dentes.


[...]


IV
(Directas)

Ainda não havia televisão a côres.
Todas as noites, víamos a série d'O Fugitivo.
Às vezes, bebíamos café e passávamos o resto
da noite a fumar e a conversar.
Não tínhamos pressa.
A paixão defendia-nos do tempo.

Saíamos, eternos, ao clarear do dia,
para comprar peixe na lota do Cais-do-Sodré
e tomar o pequeno almoço na cantina.

Não tínhamos nenhuma pressa.
A paixão defendia-nos do tempo.
Voltávamos, eternos, para casa.

14.VII.013


- in Pássaro-Lyra (Primeiro Tomo da Suma Poética),
com capa de Inês Dias e arranjo gráfico de Inês Mateus, 
Lisboa: Averno, 2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A beleza das imagens nunca é um fim. É apenas a recompensa de uma fidelidade à verdade que se quer exprimir e aos meios de que dispomos para isso.


Jacques Rancière, Béla Tarr, o tempo do depois, 
trad. Luís Lima, Lisboa, Orfeu Negro, 2013




[Béla Tarr, Danação, 1988]

domingo, 1 de novembro de 2015

157


Era uma vez um homem que tinha um cão. Quando passeava no bosque o cão trotava atrás dele. Ouvia-lhe o ruído das patas sobre as folhas o ruído da sua respiração. Um dia o cão morreu. O homem comprou outro cão. Como o anterior o novo cão trotava atrás dele. Ouvia-lhe o ruído das patas sobre as folhas o ruído da sua respiração. E lembrava-se do outro cão. Mas um dia também esse cão morreu. De novo o homem comprou outro cão. Como os anteriores também este trotava atrás dele. Ouvia-lhe o ruído das patas sobre as folhas o ruído da sua respiração. E lembrava-se dos outros cães. Por fim não foi preciso comprar mais nenhum cão. Para onde fosse uma matilha seguia-o. Mais tarde nem era preciso já ir passear para o bosque. 


Ana Hatherly, 463 Tisanas,
Lisboa, Quimera, 2006

terça-feira, 6 de outubro de 2015

OS CÃES DA NOITE


I

Quando a noite se eriça mais do que é costume,
convoco os cães.

Na esperança de que os cães me tirem
das goelas da noite
e abram brechas na muralha de fogo.


A. M. Pires Cabral
in A noite em que a noite ardeu, Lisboa: Cotovia, 2015

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

PASTELARIA


Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante!

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra


MÁRIO CESARINY




[ID, Guimarães, 2013]

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

SOL E SOMBRA


"[...]

Sem a recusa dos compromissos com todos os agravos inerentes é impossível arriscar a heresia no sentido de que fala Consolo. Em tempo de nivelação tão global num país onde a opinião pública é balbuciante tudo se agrava ainda mais. E embora pareça pouco poético falar por exemplo de meia dúzia de pinheiros com centenas de anos arrancados a uma praça vampirizada pelos automóveis, ou da libertação de um chimpanzé adolescente acorrentado no meio de destroços, o poema vai-se edificando também nesses martírios, essas rugosidades e manchas.

[...]
O poema, que também faz parte da horda errando nesta esfera que poucos soubemos resguardar, não pode isolar-se das suas dores e fealdades. É preferível narrar o nosso tempo letal nem que para isso se tenham de inventar outras palavras e uma poesia às vezes tão bruta como tudo aquilo a que vamos assistindo.

[...]"




Fátima Maldonado
in Cão Celeste n.º 7, com ilustração de Ana Menezes, 
Lisboa, Agosto de 2015

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Cão Celeste #7




Colaborações de:

Abel Neves - Alexandre Sarrazola - Ana Biscaia - Ana Menezes - Ana Teresa Pereira - António Barahona - Beatriz Hierro Lopes - Bruno Borges - Bruno Dias - Cláudia Dias - Daniela Fortuna - Daniela Gomes - Débora Figueiredo - Diniz Conefrey - 
Fátima Maldonado - Filipe Matos - Gil de Carvalho - Hugo Pinto Santos - Inês Dias - Inês Lourenço - Isabel Baraona - Isabel Nogueira - João Concha - John Mateer - Jorge Roque - José Ángel Cilleruelo - José Tolentino Mendonça - Julián Axat - 
Luís França - Luís Henriques - Luis Manuel Gaspar - Manuel de Freitas - 
Manuel Diogo - Maria João Worm - Marta Chaves - Martin Copertari - 
Mauricio Salles Vasconcelos - Pádua Fernandes - Paulo da Costa Domingos - 
Ricardo Álvaro - Ricardo Castro - Ricardo Marques - Rui Caeiro 
- Tiago Manuel - Vasco Silva

sábado, 1 de agosto de 2015

DIALOGO DEL PERRO Y DEL ANGEL


El perro le dijo al ángel: "yo te beso"
el ángel le dijo al perro: "yo te muerdo"
el perro le dijo al ángel: "yo te canto"
el ángel le dijo al perro: "yo te ladro"
el perro le dijo al ángel: "yo te alabo"
el ángel le dijo al perro: "yo te meo"
el perro le dijo al ángel: "yo te leo"
y el ángel: "cállate que me estropeo!"


Carlos Edmundo de Ory, Sin Permiso de Ser Ángel,
New York: Vanguardo Editions Gas Station, 1988

sexta-feira, 29 de maio de 2015

DA ORTOGRAFIA NOVA, DIZEM


Passo a passo o gandulo
Ainda bota acento no cú
Perante os espetadores
Que dizem ah para os lados de chelas
Ou fazem oh
Chegados a s. bento
O estilo
(cagança semiótica)
Vai além da gravata
Ou fralda de fora
Ser côxo é outro modo
De caminhar entre a arrogância
É tudo uma questão de bons-dias


Nunes da Rocha, Sabão Offenbach,
Lisboa: &etc, 2015